8.11.08

[ cap 1 ]

eu sentei no banco do metrô e liguei o mp3. se existem musicas perfeitas, eu não sei, mas existem musicas que, num perfeito momento, paralisam meu corpo. lembrei de uma época em que andava muito à noite e me permiti imergir num tempo tão passado e tão próximo. pensei que talvez pudesse escrever algo no meu caderno, ou desenhar um pouco, mas não consegui. minha vontade era ficar imóvel e permissivo àquelas sensações. não que tenha sido uma época boa.
uma formiga andou no meu braço. 'metrô tem formiga?' pensei. 'devia estar na minha mochila...'. o vagão estava praticamente vazio, era um domingo à tarde, bem no meio da tarde. quem estava na praia ainda não queria voltar e quem não saiu de casa, bem, não sairia agora. no banco à minha frente percebi uma saia de bolinhas. eram brancas num fundo negro e tinha uma bolsa branca em cima. da bolsa saíam dois fiozinhos brancos q findavam num fone de ouvido cor de rosa que a dona da saia estava colocando no ouvido. achei engraçado o fone cor de rosa e imaginei se o aparelho de mp3 seria rosa tb. ela tinha os olhos fechados e talvez estivesse ouvindo uma música num perfeito momento.
cabelos negros meio despenteados chegavam na altura no ombro, vestia uma blusa preta com um decote bonito. eu sempre admirei mulheres muito brancas, adorava apertar a pele delas e ver o tom avermelhado machucando aquela brancura. mas essa menina tinha a pele cor de café com leite fraco. como se alguém quisesse só colocar alguma corzinha num leite matinal. já os olhos eram grandes e pretos, como chocolate amargo, e agora olhavam pro outro lado do vagão. talvez ela tivesse percebido q eu estava olhando e resolveu olhar pra outro lado, talvez estivesse entediada.
chegamos à estação final, em copacabana. ela desceu primeiro, eu a segui. agora pude ver que ela tinha uma tatuagem nas costas q, de longe, parecia uma fada ou uma boneca, e outra na nuca, uma meia lua. me peguei pensando em outros lugares em q ela poderia ter tatuagens.
'she wants revenge' continuava a tocar no meu ouvido e, enquanto seguíamos o mesmo trajeto, eu a segui, cada vez mais de perto. na saída da estação, ela ficou confusa. olhou as placas, mas acabou se decidindo pela escada rolante da direita que saía na pompeu loureiro e eu, que pretendia ir pra casa, não resisti, estava curioso. queria ver ao menos pra onde ela ia.
se eu a visse na casa da matriz, talvez quisesse desenhá-la. ela parecia o tipo de menina que ia na matriz. talvez ela dançasse de um jeito bonito, balançando os cabelos, mexendo as mãos devagar. quis muito vê-la dançar. acho q foi pelo jeito q ela andava. ou pelos olhos de chocolate amargo. mas eu desejei encontrá-la num lugar em que uma abordagem minha não parecesse assustadora, ou meio maluca. 'hey, tô te seguindo desde o metrô, quer tomar algo comigo?', acho q não ia dar certo. talvez desse, sei lá. definitivamente não era meu estilo seguir mulheres desconhecidas na rua.

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